Advogado de Kat Torres diz que suspeita de tráfico de pessoas é 'infundada' e que religião da 'bruxa' deve ser respeitada: 'Está abalada'

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Advogado de Kat Torres diz que suspeita de tráfico de pessoas é 'infundada' e que religião da 'bruxa' deve ser respeitada: 'Está abalada'

Defensor da ex-modelo, que está presa preventivamente em MG, acusada de promover condições de trabalho análogas à escravidão, diz que Kat, Letícia e Desirrê são 'amigas'

Porto Velho, RO
- A defesa da ex-modelo e autodeclarada bruxa Katiuscia Torres Soares, de 34 anos, se manifestou pela primeira vez ao GLOBO sobre as investigações de tráfico de pessoas que basearam um mandado de prisão preventiva contra ela, cumprido logo depois que chegou em Minas Gerais, no último dia 19, após ter sido deportada com dezenas de outros brasileiros. O advogado Rodrigo Alves da Silva Menezes nega todas as acusações contra sua cliente, define as denúncias como infundadas, e afirma que sua cliente está "abalada".

Menezes reforça que não pode dar detalhes sobre o processo, que corre na 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, pois ele está sob sigilo. Segundo ele, o visto vencido foi o único motivo para que ela fosse deportada dos Estados Unidos. No entanto, o advogado não explicou por que Kat Torres não tinha green card, por exemplo, já que dizia ser casada com o americano Zachary Joshua Menkin, de 23 anos. Também não foi esclarecido se eles de fato já foram casados ou se continuam juntos, já que o homem não estava com ela quando foi capturada em Maine, na fronteira entre os EUA e o Canadá.

– Posso afirmar que tão logo minha cliente foi recolhida ao Presídio Professor Estevão Pinto, em Belo Horizonte, meu escritório assumiu sua defesa integral. Kat Torres somente foi deportada dos EUA em face do vencimento de seu visto, nada mais. As acusações contra ela são infundadas e minha cliente jamais praticou os crimes pelos quais está sendo acusada. A informação de que ela pudesse submeter pessoa à condição análoga à escravidão, bem como exploração sexual de brasileiras nos EUA, não procede e isto será comprovado ao longo da instrução processual – afirmou Rodrigo, sem entrar em detalhes.


Zack e Kat Torres: não se sabe os dois ainda estão juntos, ou mesmo se eram de fato casados — Foto: Reprodução

Filho perdido e testes de gravidez e psiquiátrico

A Justiça Federal, no entanto, entendeu que havia elementos suficientes apresentados pela Polícia Federal para que a prisão preventiva de Katiuscia fosse necessária por promover condições análogas à escravidão, e as investigações continuam.

Após o mandado ter sido cumprido, em audiência de custódia, uma defensora pública federal, então designada para defender Kat Torres antes de Rodrigo, havia pedido para que a mulher respondesse em liberdade por afirmar estar grávida e com problemas psiquiátricos, o que foi rechaçado pelo juiz porque nenhum laudo comprobatório foi anexado. O advogado afirma que já pediu esses exames e deve anexá-los aos autos, mas acrescenta uma informação nova. Ele afirma que a bruxa já perdeu um filho antes e que precisa do resultado de um teste para saber se está ou não carregando um bebê.

– Ela já esteve grávida uma vez e perdeu o filho, por se tratar de gravidez complexa e de risco. Já pedi a submissão a testes mais precisos para confirmação – diz. – Os laudos médicos estão sendo providenciados a fim de avaliar a saúde mental e a gravidez de Kat Torres, e serão juntados aos autos em momento oportuno.


Katiuscia Torres: presa no último dia 2 de novembro, nos EUA — Foto: Reprodução / Franklin County

'Amigas'

As denúncias contra Kat Torres vieram à tona após a movimentação de famílias e amigos de Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e Desirrê Freitas, de 26, brasileiras que, segundo eles, desapareceram após terem se juntado à seita da guru que, acreditam, pode não ter nada de espiritual. Os parentes viram fotos das duas em um site de prostituição e foram ficando ainda mais preocupados a cada vídeo publicado por Katiuscia, onde apareciam falando e fazendo coisas sem nexo. O advogado afirma que elas são amigas, apesar de por várias vezes Katiuscia ter se referido a Letícia, por exemplo, como uma espécie de secretária, que marcava as "consultas espirituais" com novas clientes.

– Kat Torres, Letícia Maia e Desirré Freitas são amigas e a relação entre elas não envolve qualquer tipo de crime – limita-se a dizer o advogado. – Kat Torres é declaradamente bruxa, ou seja, é a fé que ela professa, e isto tem que ser respeitado.


Kat, Desirrê e Letícia, em última foto publicada antes de terem sido presas nos EUA — Foto: Reprodução

Assim que o caso ganhou repercussão, há cerca de dois meses, Letícia e Desirrê reapareceram nas redes sociais, dizendo estar bem e ordenando que todos parassem de procurá-las. Como a busca não parou, as garotas foram ficando agressivas e Letícia chegou a fazer acusações contra o próprio pai de abuso sexual a ela e às irmãs na infância, o que é negado por toda a família. Os parentes não acreditam em participação delas em supostas ações criminosas de Kat, e argumentam que são vítimas que foram e estão sendo manipuladas. As duas foram presas junto com a guru nos EUA, mas foram levadas a um presídio diferente, da polícia de imigração americana, na Georgia. Desirrê teve decretado um acordo de deportação voluntária nesta terça-feira (29), enquanto Letícia ainda aguarda audiência.

– Apesar de Kat Torres estar muito abalada com a prisão em si, está confiante de que, por não haver praticado nenhum daqueles crimes apontados pelo MPF, terá a oportunidade de esclarecer os fatos de maneira escorreita, e a verdade será trazida no bojo do processo judicial – concluiu Rodrigo Menezes.

Celular é periciado

O inquérito corre sob sigilo na superintendência da Polícia Federal, que não se posiciona oficialmente, e é acompanhado pelo Ministério Público Federal (MPF). Conforme antecipado pelo GLOBO, o MPF ouviu – e ouve, através de um canal de ouvidoria – diversas mulheres brasileiras que dizem ter sido vítimas de Katiuscia. As queixas envolvem extorsão, falsas promessas para convencê-las a ir aos EUA, além de prostituição. A reportagem apurou com uma fonte que procuradores devem apresentar, após a conclusão das investigações policiais, ao menos duas ações públicas contra Kat reunindo o relato dessas possíveis vítimas.

Além da prisão, a Justiça Federal expediu ainda um mandado de busca e apreensão contra a coach e determinou a quebra de sigilo telefônico, de dados telemáticos de aparelhos, e documentos pertencentes a ela.


Fonte: O GLOBO

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