Dia 10: a vovó ucraniana disposta a pegar em armas para defender seu território

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Dia 10: a vovó ucraniana disposta a pegar em armas para defender seu território

O repórter Leandro Stoliar está em Donetsk, uma das regiões declaradas independentes pelo presidente russo, Vladimir Putin


PORTO VELHO, RO - Depois da decisão de Vladimir Putin de reconhecer os territórios ucranianos controlados por grupos separatistas como independentes da Ucrânia, o clima de tensão pirou aqui no leste do país. Para você entender: o lado ucraniano da fronteira no leste do país é cheio de cidades e localidades. Elas fazem parte da região conhecida como Donbas. As mais importantes são Donetsk e Lugansk, onde grupos separatistas pró-Rússia travam uma batalha com o exército ucraniano há oito anos. Ainda assim, essas regiões são divididas. Em Donetsk, uma parte é controlada pelos rebeldes e outra pela Ucrânia, de onde escrevo agora.

Estamos na cidade de Mariupol, em Donetsk – que faz parte de Donbas. Mas por que estou contando tudo isso? Porque quando o presidente russo reconheceu Donetsk e Lugansk como territórios separatistas independentes, ele não disse onde ficam os limites dessas fronteiras. Nesta terça, dia 22 de fevereiro de 2022, ele decidiu que toda a região de Donbas faz parte do território separatista, mas a maior parte é controlada pelo exército ucraniano.

Ao mesmo tempo em que Putin disse isso numa entrevista, ele também anunciou que enviou as tropas russas para a região para "garantir a paz". Significa que esta cidade de onde falo pode ser invadida a qualquer momento pelas tropas russas.



Em Mariupol, prédios estão destruídos.

Decidimos, então, sair para visitar os limites da cidade, perto da zona de conflito. Nesse lugar, moradores vivem apreensivos com a possibilidade de uma invasão. O pequeno bairro é cheio de prédios destruídos e com paredes furadas por tiros de fuzis e estilhaços de bombas. Há muitas pessoas morando, mas poucas gravam entrevistas. Entre os prédios e a zona de conflito há um descampado de sete quilômetros. Eles veem ataques e ouvem tiros quase toda noite. A maioria lembra quando os bombardeios começaram, há oito anos.

Mostrar essa realidade e não ficar impactado é quase impossível. Mas teve uma história que me chocou um pouco mais. A história da dona Valentyna, uma idosa de 79 anos, que produz camuflagem e cintos de artilharia para os militares na zona de guerra de maneira voluntária. Um vídeo da dona Valentyna com um fuzil Kalashinikov nas mãos rodou o mundo. Avó de duas crianças, ela ficou famosa depois que foi gravada no treinamento dos muitos grupos de resistência que aprendem as técnicas para atuar na hora da guerra.

A vovó ucraniana me conta que desde que a Crimeia foi tomada pela Rússia, em 2015, ela tem o sonho de aprender a atirar para ajudar o exército na defesa do território. "Aprendi a me movimentar, a atirar, a recarregar. Só fiz a primeira aula, mas vou voltar em toda", me conta, animada. Ela diz ainda que pode precisar ajudar um soldado ferido e, se um inimigo se aproximar, ela tem que saber atirar também.

Valentyna ficou famosa no país como a "vovó simpática". Mas só longe do campo de batalha.



Fonte: R7


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