'Lula é um conciliador e não vai mexer em questões sensíveis para os militares', diz autor de livro sobre politização das Forças Armadas

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'Lula é um conciliador e não vai mexer em questões sensíveis para os militares', diz autor de livro sobre politização das Forças Armadas

Jornalista Fabio Victor se debruçou sobre a influência da caserna na vida política brasileira do fim da ditadura até o governo Bolsonaro

Porto Velho, RO
- Não será fácil para o PT negociar com as Forças Armadas um regresso à caserna, depois do protagonismo político que os militares ganharam nos governos Temer e, principalmente, Bolsonaro. É o que aponta o jornalista Fabio Victor, autor do livro recém-lançado “Poder Camuflado”. Na obra ele reconstrói a participação política dos militares desde o fim da ditadura.

Lula manteve uma boa relação com as Forças Armadas e investiu nas tropas em seu primeiro governo. Porém, como o senhor cita em seu livro, hoje o antipetismo é o que une ideologicamente os militares. A relação do próximo governo com a caserna já nasce desgastada?

Lula vai assumir num cenário muito mais difícil do que em 2003 porque as Forças Armadas foram muito contaminadas politicamente e dificilmente haverá verba para os projetos estratégicos como teve em seus primeiros governos. Mas Lula não vai mexer em questões sensíveis porque não é do seu perfil. Nada indica que vai querer a revisão da Lei de Anistia, mexer no sistema de promoção de oficiais e generais, no sistema de educação. O histórico dele mostra isso: sempre foi um conciliador. Agora, ele já prometeu que vai tirar militares dos cargos civis.

E vai ter ambiente para ele fazer essa desmilitarização?

Desmilitarizar a Esplanada (dos Ministérios) não é uma decisão política com grandes consequências. Você tem cargos comissionados e bota quem quiser. E vai depender da habilidade do ministro da Defesa. O sinal da posição do Lula já ficou claro com essa possível indicação de José Múcio, que mais do que conciliadora talvez seja até leniente com as Forças. Veja que até o (Hamilton) Mourão (vice-presidente) elogiou Múcio.

Como interpreta os sinais da caserna até o momento, como a indicação de que os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica vão deixar seus cargos antes do fim do ano?

Isso é muito ruim. É porque não querem bater continência para o Lula. É um sintoma dessa politização. Eles dizem obviamente que não é uma insubordinação, mas isso jamais aconteceu antes. Só o compromisso do Lula de não mexer em questões sensíveis não vai tirar militares da política.


O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o general Eduardo Villas Boas na cerimônia de troca do comando do Exército — Foto: Jorge William/Agência O Globo

Como o próximo governo poderia pacificar a relação?

Se ele der missões mais claras dentre as missões constitucionais das Forças Armadas, como cuidar da Amazônia, de ameaças cibernéticas, questões de Defesa, geopolítica, e não cargos em Brasília, já vai ser um bom começo. Também vai ser importante que o Legislativo atue. Tem uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) parada na Câmara que proíbe militares da ativa em cargos civis.

No livro o senhor destaca que a politização gerou problemas internos nas Forças, deixando de punir transgressões disciplinares, como o caso de Eduardo Pazuello, que mesmo como general da ativa participou de um ato político com Bolsonaro. Acredita que esse comportamento pode ser revisto?

Essa porteira foi aberta principalmente depois do Villas Bôas. Quando o próprio comandante (do Exército) fez política via redes sociais todo mundo se sentiu autorizado a fazê-lo. Um compromisso dos novos comandantes de não se manifestar politicamente já é um começo.


Fonte: O GLOBO

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